sábado, 12 de fevereiro de 2011

A TUA BELEZA


A TUA BELEZA
      (Bruno Kohl)

A tua beleza
Quer salvar o mundo
Do olhar do outro
Do pior segundo
O melhor adorno
Pela dor no bruto
A tua beleza quer apenas  fruto


A tua beleza
Quer parar o tempo
Quer tirar a prova
quer se por na mesa
Só no chão da alcova
Aprova teu talento
A tua beleza quer o teu rebento

A tua beleza
Quer amar o feio
Entender o sujo
Ver você por dentro
Aclamar o torto
Torturar o certo
A tua beleza quer amar o teu feto

A tua beleza
Quer fazer o dia
Repetir o belo
Mais que se pedia
Nas cores dos olhos
no fim da agonia
de quem vê beleza
onde não se cria

VELHO IRMÂO


 

Velho Irmão

                                                         (Christian Alexandre- Bruno Kohl)


Velho irmão
enveredamos por canudos, seringa e fogo
já cobrimos o asfalto da cidade com borracha e suor
Velho irmão
já corremos como loucos, como poucos, como nunca...
como a flecha em direção ao coração

Velho irmão (meu velho irmão)
permita-me chorar enquanto é tempo
no teu ombro
de cimento feito gesso , poesia de água e sal.
Velho irmão (meu velho irmão)
chega perto , pra explicar enquanto entendo
o sentido da saudade que agora me invade sem perdão.

Todos os chás nos esperam no oriente , na ruína em construção.
mas nosso norte nos impele
a atravessar a rua
e alcançar teus braços
celebrando o “velho ir”
meu velho irmão.

GEN DO ACASO


GEN DO ACASO

                                                        ( Bruno Kohl)

Se a natureza já escreve em linhas tortas
Talvez seja pra que alguém se importe
E tente consertar

Minha canção é recessiva e dominante
Dissonâncias que iluminam
espirais de DNA

Teu retrato é o registro de uma multidão
Nos teus olhos vejo a cor evoluir
Mas o espírito humano se  disfarça desse engano
E ativará o gen do acaso , enfim

A fatalidade é um barco a esmo
Conhece-te a ti mesmo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CAPRICÓRNIO


CAPRICÓRNIO
                                                                       (Bruno Kohl)
De toda cura o placebo
                        Qual é a cicuta que eu bebo?
                        Dessa manhã pão e leite

                        Do mal o mais necessário
                        Do apocalipse o horário
Da crueldade o enfeite
                       
                        Da redenção a tocaia
                        Do teu prazer a cobaia
Do esquecimento a cova

                        Da natureza o inapto
                        Do acidente o impacto
                        De que Deus erra a prova
                        Lá vai o boi de piranha
                        La vai a expiação
                                           O holocausto e seus signos vão
                                                  O holocausto e seus signos vãos
                                                              (O holocausto de uma nação}
                                   È na fome o fomento
                                         É em Linch o Linchamento
                                         É vaidade a fogueira
                                         Trocaremos a ciência
                                         Pelo sexo e a violência
                                         Pelo meu sangue na bandeira

GRANIZO




                                         GRANIZO
                                                                       (Bruno Kohl)
Chego assim de surpresa
Alma sem natureza
Do nada eu apareço
Em tua casa teu berço
Tabula rasa,tabu
De passado nenhum

Eu não escolho família
Nem continente nem ilha
Pra transmutar teu valor
Pois o que chamo de amor,
não é o que eu chamo de amor

Te ofereço a beleza
De nunca ter a certeza
Como se o tempo coubesse
Quase desaparecesse
Em tuas mãos
Granizo
Nada de mim é destino
Não fosse tão clandestino
Magoaria bem menos coraçoes
Que diferença de fosse
De capa preta de foice
Anjo descendo de asa de dragões
Na verdade, nada morre , meu amor!

PALADINO


PALADINO
(Bruno Kohl)
                                                                                              
            Quando a corda te escolhe
            Como extensão do braço
            É o tempo , é o acaso
            O boi momento de um compasso
            É no lábio é na lábia
            Suas sabias entrelinhas
            Num desenho eu desmancho
            O boi-palavra , o meu garrancho

            Quando a borda te aborda
            Sabe lá o que seria
            Te convida a paladino , boi arauto do destino
            Entre as campinas ricas
            Serenatas sem destino
            Deixo o vivo o tom-varão

            Eu quero te caçar onde estiver
            Eu quero entregar meu coração
            Eu quero apostar a minha fé
            Eu quero te laçar .- Oh Boi canção.

            Devo ter uns “filhozoito”           Espalhados pelo mundo
            Feitos num affair afoito quase sempre um quase coito
            Pois se alma nasce chucra, finge até que se educa
Pra que a natureza possa tomar posse o que era sua
                                                          

ASSIM SEJA

                                                            
ASSIM SEJA
                      (Bruno Kohl)
Seja feita sua essência de amanajé
De futuro de saudade de emanação
A favor a teu destino na contra-maré
De amores genuínos na contradição

Seja feita sua essência de caminhos desiguais
De canção e consciência por achar nada demais
Que as estrelas sejam os olhos de seus ancestrais

Seja feita sua essência de camutie
De apreço de coragem de aparição
Afastando o desejo de retroceder
Com a cabeça no universo e os pés no chão

Seja feita sua essência dos mais belos rituais
De amor e sapiência , por achar nada demais
Que o filho olhe a estrela e encontre os seus pai

Adoniran  passou o tom
Deixou para o mar assoprar o dom
E a vida se fez de criança
Pra deixar o mundo "ficar bom".

ENCRUZILHADA

Encruzilhada
                                               (Bruno Kohl e Nando Kruscinsky)
Toma cuidado moleque  com as coisas dessa vida
Com que é dito nessa lida Com o que é subliminar
Toma cuidado moleque com a cera dessas asas
De encontro ao sol em brasa Derretendo cairás
Esse  rancor do teu coração
Vai dissolver teu destino
De salvador a ego de algoz
Ouça o que diz seu menino
Cuida que a mão que afaga pode um dia te afogar
Haverá sempre defesa pra quem usa a voz pra paz
Toma cuidado moleque, com o percalço dessa estrada
Sempre há uma encruzilhada
Pronta pra te distrair
Toma cuidado moleque que por trás de toda máscara
O passado se disfarça em algo novo a te iludir

Será que a água limpa o rosto desse moço , cura o tempo e mostra a alma.



MARICOTA


Maricota
                                                                       (Bruno Kohl)
Ela só queria alcançar estrelas
Pra que tanto brilho se não posso tê-las
Pra que tanto filho na mulher solteira
Vida de agonia, alma na salmoura
Pedra papel e tesoura

Ela só queria abraçar cometas
Pra que tanto tempo se me falta crença
Pra que tanto sonho, se não tenho chance
De algum romance , de algum cordel
Pedra tesoura e papel

Não pergunte pra ela que noite era aquela que dia que foi
Em que a gente dançava cantava brincava e morria com o boi
Quando ela esperava o ano inteiro a entrar no terreiro
Trocando olhares malinos ligeiros
Com o irmão do Mané trovador

Pra que tanto olho se a canção desvia
E não há consolo, mito que alivia
Se nem tudo corta, se nem tudo embrulha
Pra que tanta lida se no cio da vida
Nem a morte sacia.

O CIRCO VENAI


O CIRCO VENAI
                             (Bruno Kohl)

            Com a morte do boi, quem foi, quem vai
            Na ultima seção do CIRCO VENAI

            O mágico que foge de um alçapão
            Calabouço de uma vida inteira a iludir
            A si mesmo mas nem sempre sua multidão
            Sua arte obsoleta insiste em lhe trair
            Bailarina que aos dez fugiu com o domador
            E agora já tem trinta e não sabe dançar
            Mas o corpo no colan de fada é seu pudor
            Em minutos que ela não terá por que chorar
           
            O menino que herdou o circo do seu pai
            Não consegue ver no espelho  o grande toureiro
            Acabou sendo palhaço de seu picadeiro
            E a arvore dos sonhos torna-se bonzai

            E na hora de domar o grande boi vermelho
            Os joelhos não seguram mais a sua idade
            Numa pega improvisada, lamina escondida
            Faz jorrar da jugular, a sua liberdade

ABRENÚNCIO


ABRENUNCIO
                                                                  (Bruno Kohl/Andre Miranda)
         Hoje a cantoria desandou
         Hoje quem dormiu não acordou
         Nem a benzedeira, vai curar bicheira
         Não vai ter pajé e nem doutor

         Chama o “Seu” Mateus pra vir buscar
         Hoje o boi não quis ressuscitar
        
         A donzela veio, mas voltou
         O bode expiatório não dançou
         Hoje nem a lua, quis brincar na rua
         Nem o abrenúncio funcionou
        
         Tudo que remete a proteção , o aconchego e a adoração
         Rasgará no boi de pano
         Signos roubados , a cultura de laboratório
         E todos nós no purgatório.

         Chama o pai João pra enterrar
         Morre hoje a arte popular

PREFÁCIO

Tempos do folclore.
Da função.
Homem e fantasia eram um.
E o mito compartilhava.
Pano...depois mamão e persona.Educação sem escola.
Entendia-se.Sublimava-se.Livrava-se pelo auto.
Conceito aderido ao simbolo. Mimetismo.
Sem palavras o mais puro e inocente manifesto da vida.

E o boi era o sonho.

Agonizava em praça publica para alertarnos que algo morre em nos quando o sonho acaba.

A corrida contra o tempo para salvar o boi era o terror instaurado. Usava-se de tudo que a humanidade dispunha: Experiencia dos antigos,mandingas, ciencias , sacrificios e apelos, para salvar o sonho.E o mal e a morte vinham cumprir suas ordens.

E para o júbilo da esperança, o boi retornava de seu abismo...
A ressurreição era o milagre esperado. Como o dia apos o outro.

E o tempo passou imutável. Contra a ambição humana.A mais humana das açoes.
Apesar de não macular os simbolos apreciavam novos eus.
O boi-conceito eram aos seus olhos novos um boi-simbolo.
Metafisico ocultava-se no anímico.
Agonia era apenas uma apreciação. Boi morria simbolo e voltava simbolo.

-É hora da nova lição! diz o boi. -Não ressucitarei dessa vez.

Deixo o urubu pinicar e lambuzar-se com minhas entranhas.
Dispensem pajé, curandeira ou médico.
Maricota nem chamem..
Vaqueiro deixem ir... livrem-se da cabra e de qualquer sacrifício.

Quero morrer conceito e voltar em novo folclore...
Em pano, em mamão ou qualquer outra coisa que o homem quiser me enxergar.